Sinto-me viradsa do avesso. Como se um duende malvado tivesse agarrado em mim e me tivesse virado ao contrário. Ao virar, tudo o que estava dentro de mim caiu para o chão: as certezas, os sonhos, as ânsias, a felicidade e a alegria. E principalmente a paz de espirito.
Tento agarra-me às coisas físicas para não ser levada no redemoinho das emoções. Penso no que vou comprar para casa, o que fazer para o jantar, a roupa que é preciso lavar e passar. Tento concentrar-me no trabalho mas o coração está lá...longe... numa sala de exames.
É díficil descrever a sensação de esperar um dia inteiro por notícias e depois, à tardinha, o vosso pai diz, quase em lágrimas: a mãe tem um cancro.
Talvez não compreendam o desespero. Talvez para compreender tenho de explicar que a nossa família é muito unida. Os quatro somos os melhores amigos uns dos outros e fazemos tudo a pensar nos outros. Não existimos uns sem os outros.
E vê-la chegar, em lágrimas, como que a pedir desculpa por algo que não tem culpa, que não fez, que não podia sequer imaginar....
E ter a certeza que se está a lembrar da melhor amiga que morreu com cancro da mama.
A minha mãe pensa muito no futuro. Tem um medo terrivel do meu futuro por eu ser uma borboleta. Tem mais medo que eu. Eu soube aceitar e viver a doença. Ela ainda se revolta.
Como encarar então agora um cancro?
O médico pediu mais exames. Exames completos para saber se há possibilidade de metásteses (ou seja se o cancro se expandiu pelo corpo). Depois, se tudo estiver bem, é rapidamente operada.
Parece simples... toda a gente fala que hoje em dia é comum e a medicina evoluiu de tal maneira que a cura é fácil...
Mas sentir na pele? Sentir a dor dela, do meu pai, do meu irmão.... e a minha...
Temos um longo caminho pela frente. Tenho a certeza que a Deusa não nos deu um fardo maior que as nossas possibilidades de o suportar. Talvez queira que aprendamos algo com isto. Mas neste momento o meu coração, vista e alma, não consegue alcançar mais nada que a realidade. E essa é dura e está à minha frente.
Obrigada a todos os que me têm apoiado. Mesmo de longe, mesmo virtual, o vosso conforto é real e aconchega a alma. Obrigada.
Cancro da mama com possibilidade de se ter estendido ao resto do corpo. Mais exames urgentes e operação daqui a pouco mais de 15 dias.
Aqui estou de volta. Fui ao médico e não era papeira. Tenho os gânglios infectados, vá-se lá saber porquê...
Um antibiótico, o fim de semana quietinha em casa, e já estou muito melhor. Doía-me bastante a comer pelo que estive confinada a sopa e iogurtes. Coisas liquidas. Agora já consigo mastigar melhor e começo a comer coisas sólidas novamente.
Ainda bem que não era papeira!
Há pouco ligaram à minha mãe. Pediram-lhe para ir ao hospital à consulta hoje à tarde. Tendo em conta que é longe não é uma decisão tomada de repente. Foi o meu pai com ela, que podia faltar ao trabalho.
Não estávamos à espera. Ainda ontem tinhamos falado disso e contávamos conseguir passar a semana sem um telefonema. Afinal ainda não passaram os oito dias úteis da área de perigo.
Agora estou aqui, no emprego, ansiosa à espera de notícias. Ela ia muito nervosa. Começou logo a chorar. Lá acabou por se acalmar e tentar ver a coisa por outro prisma. Mas é complicado.
Não lhe posso pedir para não ser pessimista quando eu própria estou pessimista, mas temos que tentar esconder as nossas preocupações para não a intimidar ainda mais.
Fui buscar a minha pedra da sorte para estar comigo durante o dia. Vou rezar e pedir à Deusa que nos auxilie nesta hora e dissipe o nevoeiro que nos envolveu.
Beijos e obrigada pelo apoio!
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