Às vezes não sentem falta de uma coisa que nunca tiveram. Costuma-me acontecer. Um sentimento de perca e de saudade de algo que não conheço. Será por ser portuguesa e ter esta saudade enraizada nos genes?
Mas como se pode sentir falta ou saudade de uma coisa desconhecida.
A minha vida é relativamente boa. Tenho um trabalho (não me satisfaz mas é um trabalho que me permite pagar as contas no final do mês), tenho uma boa família que me apoia (alguns, é certo, só destabilizam e importunam... e ultimamente tem acontecido muito. Mas os que restam apoiam e bem), tenho casa, tenho dinheiro. Não vivo assim tão apertada. Chega-se ao fim do mês com algum (pouco) dinheirito no bolso. Mas é melhor que nada.
Se tenho uma vida assim tão boa... então o que me falta?
Faltam-me as minhas asas. Falta-me o céu. Voar pelas nuvens. Falta-me o mar. Conhecer os peixes e ouvir o som do canto das sereias. Falta-me sentir a terra quente nos meus pés até a sentir respirar, e a acompanhar.
Sou muito influenciável pelos elementos. Há aqueles momentos em que preciso de sentir os pés na terra, sentir a sua textura, para que me sinta viva. Outros em que preciso de sentir a limpidez da água, ouvir as ondas e deixar-me embalar. E sou fascinada pelo fogo. Sou quase incapaz de acender um fósforo... mas o fogo fascina-me. Sou capaz de estar horas a olhar para uma chama trémula e a vê-la dançar.
Mas o que me fascina mesmo é voar! Soltar as amarras e partir.
E como conto os dias que me faltam para sair daqui e ir de férias deixo-vos um poema que gosto muito. Que fala das viagens que fazemos e do que é importante.
Viagem
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar."
Miguel Torga - 1962
Beijos
. Férias
. Olá
. Snow
. Na mesma.... como a lesma...
. Novo Ano
. Esticar as asas por: